O mercado financeiro chega à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira totalmente rachado entre a manutenção da Taxa Selic em 14,75% e uma nova alta, desta vez de 0,25 ponto percentual, para 15%.
Os dados mais recentes de inflação e atividade são citados pelos economistas que esperam o encerramento do ciclo de aumento de juros, mas quem prevê mais uma alta argumenta que as expectativas de inflação ainda estão longe da meta de 3% e que os diretores do BC preferiram por uma comunicação mais cautelosa em suas últimas declarações.
Em 14,75%, a Selic está no maior nível desde o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em agosto de 2006. Caso suba para 15%, será o patamar mais elevado desde julho daquele ano.
No encontro de maio, o Copom deixou em aberto seus próximos passos e disse que o cenário demandava “cautela adicional” na condução dos juros e “flexibilidade” para avaliar os dados que impactam a dinâmica inflacionária.
“Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação.”
A maior parte dos economistas, contudo, considerou que o comitê se mostrava mais inclinado a encerrar de vez o ciclo de alta iniciado em setembro — desde lá, já foram seis aumentos consecutivos, totalizando 4 pontos percentuais de aperto.
Um dos sinais destacados foi um trecho do comunicado de maio que dizia que o cenário prescrevia “uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado” para que a inflação volte à meta. Na reunião anterior, de março, dizia que o cenário demandava juros mais restritivos.
Na ata, o BC ainda disse que a política monetária já estava contribuindo para esfriar a economia – condição considerada necessária para a redução da inflação.
Os dados econômicos divulgados na sequência corroboraram essa avaliação. Os indicadores setoriais vieram mais fracos e o IPCA – índice de oficial de inflação – ficou abaixo do previsto, inclusive em grupos de preços considerados mais sensíveis ao efeito da taxa Selic.
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No entanto, a comunicação oficial dos integrantes do Copom se manteve cautelosa, o que na opinião de parte do mercado apontou que o colegiado prefere manter todas as opções na mesa, sobretudo em um cenário em que as projeções e expectativas de inflação ainda estão longe da meta de 3,0%. A economia, embora dando indícios de desaceleração, também segue robusta, com forte criação de vagas de emprego.
Atualmente, o Copom se concentra em colocar a inflação na meta no final de 2026, prazo no qual a sua projeção oficial em maio era de 3,6%. No Boletim Focus, a mediana é de 4,50%, no limite superior da meta. Era de 4,51% antes do encontro de maio.
— Estamos ainda discutindo o ciclo de alta, o que vamos tomar de decisão. A flexibilidade significa que nós estamos abertos a chegar na próxima reunião para tomar essa decisão sobre o que fazer — disse o presidente do BC, Gabriel Galípolo em evento do Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP) no início de junho.
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Para Marco Caruso, economista do Santander, em um contexto de expectativas desancoradas e atividade forte, que ainda não dá conforto para o BC parar de elevar a Selic, a declaração de Galípolo é uma indicação a favor de um aumento de 0,25 pp.
“Em nossa opinião, a mudança de comunicação do BC teve como objetivo alterar os preços de mercado, uma medida improvável se o comitê já tivesse decidido a interromper a política monetária. Isso sugere a intenção de preservar suas opções”, avaliou, em relatório.
Já o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, acredita que a cautela adotada por Galípolo e demais diretores do Copom visa a afastar a expectativa de uma queda de juros em breve. Além disso, Oliveira afirma que, mesmo a manutenção da Selic esta semana, deve significar um aperto monetária, uma vez que a inflação está caindo.
Outro ponto é que o aumento de juros demora a fazer efeito na economia real e o BC tem deixado clara que pretende deixar os juros altos por “período prolongado”
— Com os dados recentes, expectativas de inflação recuando e comunicação do BC, espero manutenção da Selic em 14,75%.
Alberto Ramos, do Goldman Sachs, afirma que, em última análise, pode ser mais fácil para o Copom justificar um aumento do que uma manutenção.
“Esperamos que o Copom esteja atento ao cenário macroeconômico e aos desafios ainda significativos na busca pela inflação em direção à meta. Em nossa avaliação, o argumento macroeconômico e tático para um aumento de 0,25 ponto é mais convincente do que o argumento para mantê-lo”, diz.
O BTG Pactual, em relatório, também passou a a incorporar uma alta adicional de 0,25 ponto, com a Selic permanecendo em 15% até o fim de 2025. “A comunicação anterior deixou a decisão em aberto e condicionada à evolução dos dados. Desde então, os indicadores divulgados apontaram atividade resiliente e inflação de serviços ainda elevada, em um contexto de expectativas desancoradas, o que reforça a necessidade de um ajuste residual”.