PUBLICIDADE

‘Bella é uma menina muito sofrida e reservada’, diz Taís Araujo sobre a intérprete de Maria de Fátima

Oito horas da manhã de uma segunda-feira: foi nesse horário que Taís Araujo abriu as portas de seu apartamento para a reportagem da ELA. A luz radiante, típica do outono no Rio, atravessava as janelas quando a intérprete de Raquel Accioli no remake de “Vale tudo”, da TV Globo, adentrou a sala com um sorrisão […]


Oito horas da manhã de uma segunda-feira: foi nesse horário que Taís Araujo abriu as portas de seu apartamento para a reportagem da ELA. A luz radiante, típica do outono no Rio, atravessava as janelas quando a intérprete de Raquel Accioli no remake de “Vale tudo”, da TV Globo, adentrou a sala com um sorrisão no rosto. “Levantei às 6h e já treinei”, conta. Pronta para a entrevista, diante da mesa de café da manhã debruçada sobre uma vista estonteante, revelou o que não pode faltar para começar o dia: “Café com leite”.

A otimização do tempo tem sido uma constante na vida da atriz, de 46 anos, nascida em Duque de Caxias, mas carioca de coração, que enfrenta uma pesada rotina de gravações. As cenas na pele da mãe da oportunista Maria de Fátima (Bella Campos), além de serem muitas, a demandam emocionalmente. “Por abordar a questão da maternidade, essa personagem acessa um lugar profundo. Fico abalada durante os embates”, confessa a mãe de João Vicente, de 14 anos, e Maria Antônia, de 10, ambos da união com o ator Lázaro Ramos, com quem está casada há 20. “Este ano, completamos 21.”

Com mais de três décadas de carreira, Taís ocupa diversos lugares e papéis com firmeza. Além de ser uma das maiores atrizes do Brasil, tornou-se referência em ativismo. Defensora dos direitos das mulheres negras da ONU Mulheres desde 2016, é porta-voz da luta antirracista, ícone de beleza e entrevistadora de mão cheia: em abril do ano passado, dividiu o palco do evento “Legends in town”, em São Paulo, com a americana Oprah Winfrey. Na próxima sexta, dia 13, abrirá a Bienal do Livro do Rio ao lado da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.

Em duas horas de conversa, Taís falou, sem perder o bom humor, sobre as críticas a Raquel Accioli, sua relação com Bella Campos, os desafios da maternidade, colorismo e assédio. A seguir, os melhores trechos:

Taís Araújo usa camisa Vitureta sobreposta à camisa Koia, meia-calça Calzedonia e sapatos Vitureta — Foto: Fernando Tomaz
Taís Araújo usa camisa Vitureta sobreposta à camisa Koia, meia-calça Calzedonia e sapatos Vitureta — Foto: Fernando Tomaz

Como é para você, dona de uma personalidade forte, viver a Raquel Accioli, apontada como “trouxa” e “ingênua”?

Quando fui chamada para fazer a Raquel, fiquei reticente. Não queria mais viver heroínas pois conheço bem as mazelas. Elas têm essa coisa da ingenuidade, da virada e precisam ter uma curva descendente para poder valorizar a ascendente. Porém, me encantei com a jornada dessa mãe. Quantas mulheres não fazem de tudo para resgatar os filhos? Quem está dentro dessa situação não usa a lógica. Outra coisa diz respeito à construção da narrativa de uma novela: Raquel vai ter de chegar ao apogeu da merda para, depois, subir. As pessoas não têm mais calma. Em um mês, a amam; no seguinte, estão com “ranço”. Temos oito meses para contar essa história. O público precisa ser paciente, e eu também. Existem muitas mulheres como Raquel. O negócio é não confundir boa com boba. Essa é a grande questão da trama.

O que acha das críticas ao figurino?

Quem critica não tem noção do que é o Brasil. A gente precisava de uma Raquel simplória. Se me vestem de linho, vou para outro lugar, por isso também posso fazer as ricas. A Marie (Salles, figurinista) está passando o mesmo que viveu comigo em “Viver a vida”. Na época, foi criticada por me vestir bem. Ela chegou a ouvir a frase “como você veste uma negra com roupa de branca?”. Agora, é por estar “muito chinfrim”. Os valores e a vaidade da Raquel estão em outro ponto, não na roupa.

Mas em breve ela vai viver uma virada…

Sim, será um processo. Raquel vai se reconhecer sozinha, sem o Ivan (Renato Góes) e sem a filha, e terá que se olhar, em primeiro lugar. Depois de ter realizado o comercial, várias coisas vão acontecer: participará de um reality show, ganhará um milhão de reais e receberá a proposta da Paladar. Depois da cena em que rasga o vestido de noiva de Maria de Fátima, haverá uma passagem de tempo. Raquel voltará modificada, com cabelo maior, volumoso. As estampas não saem, mas mudam. Brinco que a referência dela é a Taís Araujo (risos). Mas batalho para a permanência da simplicidade. O simples é potente.

Como construiu a relação com a Bella?

Precisávamos estabelecer uma troca de confiança para as personagens acontecerem. Corri muito atrás dela. Bella é uma menina que teve uma vida muito sofrida (devido a dificuldades financeiras enfrentadas na infância e na adolescência), e é reservada. Foi difícil ali, ela se abriu aos poucos. Construímos uma cumplicidade maravilhosa. Outro dia, estava exausta e foi ela quem me acolheu. Uma se apoia na outra. É uma relação muito bonita.

O que pode falar sobre o desentendimento de Bella com o ator Cauã Reymond? E sobre as críticas direcionadas a ela?

Isso existiu no início da novela. Quando veio à tona, já era história velha. O negócio é que ela destampou outras histórias, foi pipocando um monte de coisa. Mas aí já não é mais questão da Bella. É uma sacanagem isso virar o foco quando estamos todos fazendo uma novela tão legal. Os dois estão lá, trabalhando todos os dias. E é isso que todo mundo tem de fazer. Sobre as críticas, falo para Bella não desviar a atenção e tirar as redes do celular. Lembro que apenas ela e Glória Pires tiveram a oportunidade de interpretar a melhor personagem da teledramaturgia brasileira.

Vestido Alaïa e acessórios Yar e Alexia Bittar — Foto: Fernando Tomaz
Vestido Alaïa e acessórios Yar e Alexia Bittar — Foto: Fernando Tomaz

Quem te acolheu no passado como você faz hoje com a Bella?

A Aracy Balabanian (1940-2023). Na época de “Viver a vida” (novela de 2009 de Manoel Carlos, na TV Globo, em que viveu a primeira Helena negra e recebeu muitas críticas), ela, que odiava acordar cedo, me recebia de manhã na sua casa para passar o texto. Foi uma época muito difícil para mim. Alinne Moraes, que também estava no elenco, me pegou pela mão. Jamais esquecerei.

Recentemente, em “Vale tudo”, Odete Roitman se referiu a Maria de Fátima como “nem tão preta assim”. qual a importância de o colorismo ser abordado em horário nobre?

Tem de ser colocado. As pessoas com pele mais clara têm mais passabilidade (refere-se à capacidade de uma pessoa ser reconhecida socialmente como pertencente a um grupo racial diferente do seu). Não é que racistas não se relacionem com negros: relacionam-se sim, e se (os negros) estiverem a serviço, melhor ainda. Esse é o caso da relação das duas: Maria de Fátima está a serviço de Odete. Na vida real, adoraria interpretar a personagem Luísa Mahin, de “Um defeito de cor” (livro de Ana Maria Gonçalves). Mas sei que não poderei fazer. Ela não tem mistura, ao contrário de mim. É um papel para uma atriz retinta.

Como foi entrevistar mulheres que são suas referências, como Oprah Winfrey?

Sou meio “kamikaze”. Eu vou mesmo, me jogo. Porque se for mensurar, vou ficar com medo. Entrevistei primeiro a Viola (Davis). Depois vieram a Oprah, a Grada Kilomba e, agora, sexta-feira, dia 13, será a Chimamanda (Ngozi Adichie), na Bienal do Livro.

Você vai viver Elza Soares no cinema. Está Feliz?

Elza é uma personagem deslumbrante. Saber que ela gostaria que eu fizesse o filme sempre me deixou emocionada e ainda mais fortalecida para dar vida a essa mulher, que é uma lenda.

Neste ano, você completa 30 anos de carreira como atriz. Viveu situações de assédio ao longo do percurso?

Minha mãe serviu como escudo. O fato de ela estar sempre ao meu lado me poupou do assédio sexual, mas não do moral. Com o Avancini, sofri muito (a atriz já mencionou o fato de o diretor Walter Avancini, morto em 2001, ter tido comportamento abusivo durante as gravações de “Xica da Silva”, de 1996). Em 2022, durante “Cara e coragem”, sofri assédio moral. Uma produtora falava comigo de forma muito grosseira. Quando me dei conta, estava chorando e com ódio de passar por aquilo depois de velha. Sou muito respeitada na Globo, mas vai ter sempre alguém querendo quebrar suas pernas. Quando botei as cartas na mesa, fui prontamente atendida na emissora. A gente tem que denunciar. Senão, fica doente.

O que você falaria para a Taís lá do começo?

Regata Alexander Wang e brincos Sauer — Foto: Fernando Tomaz
Regata Alexander Wang e brincos Sauer — Foto: Fernando Tomaz

Calma, confia no processo. Não perca o foco. Costumo falar com frequência uma frase de Michelle Obama para os meus filhos: “Pratique quem você quer ser todos os dias”. É isso.

StyBing: Caroline Costa. Beleza: Henrique Martins. Assistentes de fotografia: Fabricio Marconi, Felipe Costa e Gui Ferraz. Assistente de beleza: Vitor Malibu. Produção de arte: Nídia Aranha. Produção de moda : Joanna Santana, Tulany Freitas e Raquel Paiva. Tratamento de imagem: Hugo Pontes. Camareira: Márcia Rodrigues. Produção executiva: Cecilia Bastos.



Source link

Leia mais

PUBLICIDADE