Entre as muitas acrobacias lendárias que Tom Cruise realizou ao longo dos oito filmes da franquia “Missão: Impossível” — escalar o edifício mais alto do mundo em Dubai, saltar de motocicleta de um penhasco na Noruega, recuperar um livro de registros roubado de uma centrífuga subaquática — parece improvável que um dos momentos mais impactantes e espetaculares da história quase trintenária da série envolvesse dois biplanos antigos que mais parecem ter sido feitos para o Snoopy pilotar.
E, no entanto, muitos espectadores saíram da mais nova parte da franquia, “Missão: Impossível – O Acerto Final”, estupefatos com essa cena: uma sequência de 12 minutos e meio em que o incansável agente especial Ethan Hunt, interpretado por Cruise, agarra-se ao trem de pouso de uma pequena aeronave colorida, domina o piloto, e então salta para outro avião em pleno ar para trocar socos com o vilão sorridente do filme (interpretado por Esai Morales) — tudo isso enquanto é atingido e sacudido pelos elementos como um biruta humano.
Se parece que Cruise está sendo genuinamente arrastado pelo vento no céu, é porque ele está mesmo. A já conhecida disposição do ator em realizar suas próprias acrobacias significou que a cena foi filmada em grande parte tal como aparece na tela, com exceção da remoção digital, na pós-produção, de certos elementos como os cintos de segurança e um piloto secundário.
A maioria das acrobacias em “Missão”, segundo Christopher McQuarrie, que dirigiu os últimos quatro filmes da série, começa com encontrar ou construir o veículo certo para a tarefa. Neste caso, tratava-se de um Boeing Stearman, usado principalmente para treinar pilotos de combate durante a Segunda Guerra Mundial. Eventualmente, a produção comprou vários: dois vermelhos, dois amarelos — “porque, se você tem apenas um avião e ele quebra,” explicou, “todo o filme para.”
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De acordo com o coordenador de dublês e diretor da segunda unidade, Wade Eastwood, Cruise, de 62 anos, treinou durante meses em solo antes de o conceito completo decolar.
— Tom já é um piloto muito experiente e habilidoso, mas estar na asa de um avião não é algo que as pessoas fazem. Então nós amarramos o avião, colocamos grandes ventiladores e máquinas de vento, ligamos a hélice só para ver quais seriam os efeitos no corpo, e foi absolutamente exaustivo. Quero dizer, é como lutar contra o maior elástico de resistência da sua vida — disse Eastwood.
As locações — vários pontos remotos espalhados pela África do Sul — também precisaram ser calculadas minuciosamente em termos de condições ideais e segurança.
— Se o céu estivesse muito limpo, você não podia fazer acrobacias — disse McQuarrie. — Porque sem nuvens, o avião não parece estar se movendo em um espaço tridimensional. Você precisava que a temperatura estivesse dentro de alguns poucos graus para obter a sustentação necessária. Quanto mais quente, mais rarefeito o ar, e o avião perde manobrabilidade. Quanto mais frio, mais rápido o Tom entra em hipotermia na asa.”
Para capturar todos os ângulos, foram necessárias mais de 60 posições de câmera, e os aviões foram abastecidos com a menor quantidade possível de combustível para se tornarem mais manobráveis. Outros aspectos logísticos aumentaram os riscos: a possibilidade de Cruise cair era “remotíssima”, disse McQuarrie.
— O perigo mais realista era que detritos da pista o atingissem na decolagem. Se uma pedra fosse levantada, ela atingiria o Tom como uma bala. E no ar, àquela velocidade, uma colisão com um pássaro seria fatal. Estávamos constantemente preocupados com aves ou pedaços do avião, suportes de câmera, parafusos, qualquer coisa assim.
Além disso, disse Eastwood, a força G “alternadamente drena o sangue do seu corpo e te torna muito mais pesado do que você é. Então, quando você vê o Tom sendo jogado contra a asa, é a força G puxando ele. E depois ele vai para gravidade zero no topo, é quando ele está flutuando. Parece que ele está atuando — e de certa forma está — mas também está lutando contra o vento e se esforçando para permanecer naquela asa.”
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Como exatamente Cruise conseguiu respirar sem máscara de oxigênio enquanto se agarrava à parte externa de uma aeronave a 270 km/h, a cerca de 3.000 metros de altitude? “A resposta é que ele não consegue,” disse McQuarrie. “As moléculas estão muito dispersas nesse ponto. Eu estive na asa do avião e experimentei isso em primeira mão — você está respirando, mas seu corpo não está. Você recebe talvez um décimo do oxigênio que receberia normalmente, e ainda está sendo esmurrado.”
O barulho do vento e do motor também complicava tudo. “Acabamos desenvolvendo nossa própria linguagem de sinais,” disse McQuarrie. “Você quer manter a comunicação para que o Tom conserve energia.” Um toque na cabeça significava que Cruise estava apenas descansando (e não, de fato, inconsciente); outro gesto indicava problema. “Basicamente, se você precisava falar sobre algo mais de uma vez, criava um sinal com as mãos para aquilo.”
O conhecimento acumulado em mais de uma década trabalhando na série, disse McQuarrie, também gerou uma espécie de linguagem cinematográfica própria. — Provavelmente poderíamos fazer isso agora em um terço do tempo. Mas quem seria louco o bastante para filmar outra sequência como essa novamente?.