Scarlett Johansson, Kristen Stewart e Harris Dickinson estreiam na direção em Cannes

— Não sei como vou conseguir processar a imensidão disso, que é estrear um filme meu em Cannes. Isso me deixa nervosa, mas também animada — disse a Viúva Negra do Universo Marvel à imprensa americana.

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Uma das estrelas mais bem pagas do mundo, Scarlett aceitou com determinação passar pelo batismo de fogo de diversos outros atores que, como ela, se aventuraram na direção, para o bem ou para o mal (e alguém aí ainda lembra de “Rio perdido”, de Ryan Gosling, exibido na edição de 2014, que nunca mais voltou a usar o boné de diretor?).

“Eleanor the great” é uma história de reinvenção pessoal, que passa pelo tema do etarismo. O filme de Scarlett acompanha o drama de uma nonagenária que, depois de perder sua melhor amiga e colega de quarto, decide reconstruir a vida sozinha em Nova York. Embora Eleonor ache difícil fazer novas amizades na sua idade, ela acaba criando vínculos com um estudante de 19 anos. A personagem é interpretada por June Squibb, atriz de longa carreira na TV, no cinema e na Broadway.

— Já imagino June caminhando pela Croisette aos 95 anos, atravessando o tapete vermelho, estrelando esse incrível papel dramático — deseja Scarlett, que concorreu ao Oscar com “História de um casamento” (2019) e “Jojo Rabbit” (2019).

A direção é o novo braço de atuação de Scarlett Johansson na indústria do cinema. Em 2017, ela fundou a sua própria produtora, a These Pictures, e desde então tem trabalhado com outros realizadores, como Sofia Coppola, Christopher Nolan, Jonathan Glazer, os irmãos Coen, Noan Baumbach, Robert Redford (que a dirigiu em “O encantador de cavalos”, quando ela tinha 12 anos), e Wes Anderson. Scarlett estará ao lado deste último em Cannes para promover “O esquema fenício”, um dos 22 títulos que disputam a Palma este ano.

Mas Scarlett não estará sozinha em seu novo grande teste. Ela terá a companhia de Kristen Stewart, que já tem o seu nome eternizado como Bella Swan, da saga “Crepúsculo”, e Harris Dickinson, companheiro de tela de Nicole Kidman no recente “Babygirl”, que também terão suas primeiras experiências na direção exibidos na programação da seção Um Certo Olhar. É a 78ª edição de Cannes mantendo a tradição de acolher o trabalho de artistas que buscam ampliar seu portfólio, como Clint Eastwood, Sena Penn, Mathieu Amalric e Louis Garrell.

A americana Kristen Stewart, de 35 anos, foi sucinta ao comentar sobre sua estreia na direção:

— Quero que meu filme faça barulho — diz.

Indicada ao Oscar por sua performance em “Spencer” (2021), cinebiografia da Princesa Diana dirigida por Pablo Larraín, a atriz se lança como realizadora com “The chronology of water”. O filme é inspirado na vida da nadadora olímpica Lidia Yuknavitch, que, na juventude, fugiu do lar abusivo quando ganhou uma bolsa de estudos no Texas. Mais tarde, ela tenta se reconciliar com seu passado conturbado por meio da poesia.

O projeto, protagonizado pela atriz britânica Imogen Poots, levou quase dez anos para sair do papel, e envolveu vários revezes. Ano passado, Kristen chegou a declara que iria “fazer esse filme antes mesmo de trabalhar de novo (como atriz) para qualquer outra pessoa; até que as coisas comecem a andar para ‘The chronology of water’”. Seis meses mais tarde, ela estava filmando na Letônia.

— As memórias de Lidia honraram a experiência corpórea, radicalmente. Tornar essa experiência física era vital para mim — disse Kristen, a primeira atriz americana a ganhar um César, o “Oscar” francês, por “As nuvens de Sils Maria” (2014), de Olivier Assayas.

Aos 28 anos, Harris Dickinson já não é exatamente um desconhecido em Cannes. Ele esteve no festival em 2022 promovendo “Triângulo da tristeza”, vencedor da Palma daquele ano. Agora retorna à Riviera como diretor de “Urchin”, sobre um morador de rua de Londres que luta para se libertar de um ciclo de autodestruição. O protagonista é vivido por Frank Dillane, visto em “Harry Potter e o enigma da pirâmide” (2009) e na série de TV “Sense8” (2015), e o elenco combina atores em ascensão e atores não profissionais.

Dickinson também é autor do roteiro de “Urchin”, desenvolvido a partir de sua experiência pessoal trabalhando em um abrigo para moradores de rua na região leste da capital inglesa.

— Cinco anos atrás, mais ou menos, eu estava ficando desiludido com o mundo da política e queria agir em um nível mais local — conta Harris Dickinson. — Então comecei a contribuir com pequenas atitudes localizadas. Foi com essas iniciativas que realmente comecei a entender quantas pessoas naquela comunidade eram incrivelmente vulneráveis e precisavam de apoio, igualmente decepcionadas pela sociedade e pelo sistema, como eu.