A informação foi confirmada posteriormente pelo El País do Uruguai, destacando o horário da expectativa da chegada de Lula.
Além disso, foi decidido fechar o Palácio Legislativo durante a noite e que o velório, inicialmente, começará com um grupo fechado de 300 pessoas e, em seguida, as portas serão abertas para o público geral.
Nesta quarta (14), o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva afirmou à jornalistas em Pequim, na China, que irá ao funeral do ex-presidente do Uruguai, José Pepe Mujica, que morreu aos 89 anos.
‘Eu pretendo, chegando à Brasília, ir ao enterro do Pepe Mujica porque eu acho que o mínimo que a gente tem que fazer é se despedir das pessoas que serviram de referência para gente’, afirmou Lula.
Lula com Pepe Mujica. — Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
O velório começou com um cortejo que saiu do prédio da Presidência do país, vai passar pela sede do grupo político Movimento de Participação Popular até o Palácio Legislativo. Depois, chegando por lá, o público poderá fazer sua última despedida do ex-presidente do país. A expectativa é que o corpo seja cremado nesta quinta-feira (15).
Antes, nas redes sociais, o presidente destacou que a vida de Mujica foi um exemplo ‘de que a luta política e a doçura podem andar juntas’.
‘Amanheci em Pequim com a triste notícia de que Pepe Mujica partiu hoje, nos deixando cheios de tristeza, mas também de muitos aprendizados. Sua vida foi um exemplo de que a luta política e a doçura podem andar juntas. E de que a coragem e a força podem vir acompanhadas da humildade e do desapego’, escreveu o petista.
Morreu nessa terça-feira aos 89 anos o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica. Ele enfrentava fase terminal de um câncer de esôfago. Em janeiro, Mujica revelou que a doença havia se espalhado por todo o corpo e que ele não faria mais o tratamento, portanto, agora recebia apenas cuidados paliativos.
Figura importante não só no Uruguai, mas em toda a América Latina, Pepe Mujica ficou conhecido pelos ideais progressistas e pela simplicidade. O político entrou para a militância ainda na juventude e ficou preso por mais de 14 anos durante a ditadura. No período em que ocupou a cadeira presidencial, Mujica conduziu reformas que chamaram a atenção na época como a descriminalização do aborto nas primeiras 12 semanas de gestação e a legalização da maconha.
Nascido em maio de 1935, José Alberto Mujica Cordano fazia parte de uma família de classe média baixa de Montevidéu. Ele também cresceu na capital uruguaia, onde estudou e chegou a cursar Direito – mas não concluiu a graduação.
Nos anos 60, se juntou ao Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, um grupo guerrilheiro de esquerda de oposição ao regime militar do país. Pelo envolvimento com o grupo político, Mujica passou quase quinze anos da vida na prisão. O maior período foi entre 1972 e 1985 – parte deles numa solitária.
A experiência marcou profundamente a visão política e a forma de vida de Pepe.
Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai — Foto: Reprodução/Google Images
Em entrevista à CBN, Marcos André Lessa, jornalista e autor da biografia ‘Mujica: o presidente mais rico do mundo’, lembrou como a prisão mudou o uruguaio:
‘Mujica dificilmente puxa o assunto, normalmente ele é perguntado sobre o assunto, mas ele chega lá 1 hora ou um momento e diz assim que ele aprendeu a viver em dois por três metros, que era o tamanho lá da solitária, do poço que ele ficou durante dois anos. E que ficava feliz quando chegava à noite e colocavam um colchão para ele, então ele aprendeu a viver com pouco.’
Nos anos 80, Mujica se uniu ao Movimento de Participação Popular, partido que entrou na Frente Ampla progressista na restauração da democracia no Uruguai.
Foi deputado e senador antes de assumir o cargo de ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca do governo Tabaré Vázquez, em 2005. Foi eleito presidente do Uruguai cinco anos depois.
Durante o mandato, ficou famoso por dirigir o próprio Fusca e doar uma parte significativa da renda a programas sociais. Também se recusou a mudar para a residência presidencial, vivendo na área rural de Montevidéu.
O governo Mujica autorizou a interrupção da gravidez até a décima segunda semana de gestação. Mas, mais de dez anos depois da lei, ginecologistas de algumas regiões se declaram contra o procedimento e se negam a realizá-lo.
Em 2013, o Uruguai se tornou o primeiro país do mundo a legalizar e regulamentar a produção e o consumo de cannabis. Pela lei, somente moradores locais são autorizados a adquirir maconha, pelo autocultivo, clubes e farmácias.
Após deixar a presidência, Pepe Mujica ainda permaneceu uma voz ativa nas políticas uruguaia e internacional.
Em entrevista ao jornalista Pedro Bial, em 2017, refletiu sobre o tempo em que passou a frente do país:
‘A luta por justiça social é, no fundo, solidariedade por aqueles que são oprimidos. Mas, no fundo, é também pelo opressor. Entendíamos que a luta era pelo poder. Não. A luta no sentido mais profundamente progressista é pela civilização humana.’
Ele afirmou, em janeiro de 2025, que sai “tranquilo e grato” depois de ter uma vida “muito boa”, apesar dos anos que passou na prisão.
Mujica deixa a mulher, Lucia Topolansky, sua companheira por mais de 50 anos.